quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Michelangelo e a dádiva da polivalência



No começo de todo ano muita gente faz planos, traça objetivos e temos aquela sensação boa (que infelizmente dura pouco) de que tudo é possível e que nossas capacidades são multiplicadas instantaneamente, apenas com um simples mudar de datas no calendário. É uma época mágica, a fase de transição entre o clima bom do Natal e do Ano-Novo, a alegria das férias e a reconfortante sensação de recomeço. Ai...

Mas antes que essa sensação se perca na correria, na rotina e no cansaço do trabalho e estudos, nada melhor do que nos inspirarmos um pouco pra tentar manter a essência do ano novo o ano todo.

Como boa curiosa que sou, estava lendo um livro de coleção de banca sobre Michelangelo, nada muito complexo nem muito aprofundado, mas me trouxe, além da oportunidade de contemplação de uma dos maiores nomes da arte de todos os tempos, a reflexão do alcance da criatividade, como a mente criativa pode se expandir em várias direções, de várias formas, unificando e superando rivalidades.


'A Criação de Adão' - Capela Sistina

Michelangelo foi um exemplo de artista polivalente: escultor, pintor, arquiteto e até pela literatura ele se aventurou! Que maravilha!, pensei eu. Não se vê coisas como essa, talentos como esse hoje em dia. E durante o restante da leitura esse sentimento me perseguiu. Como é triste pensar que o mundo não pode mais produzir pessoas como essas, que o mundo não incentiva a criatividade dessa forma. Afinal de contas, escultor não é o que chamam de profissão ‘séria’ hoje em dia.

Calma, calma, calma, alguns de vocês podem estar dizendo: “Nada a ver, o mundo mudou, tem lugar pra tudo e pra todo tipo de profissão...” E, ei, eu concordo com você, mas sejamos um pouco realistas, pelo menos aqui, onde podemos falar de tudo com sinceridade... O que acontece no mundo real? Todo mundo é tão compreensivo e tão aberto a mudanças, ao novo? Não. Ser pintor, escultor ou escritor não são coisas tão comuns, não recebem o valor que deveriam receber, porque, digam-me por favor, o que é um país sem arte? Na minha opinião, um país morto.


'Davi'

Detalhe de 'A Criação de Adão' - Capela Sistina

Com tudo isso quero dizer que talvez, incentivar a arte e a criatividade como modos de vida válidos e acessíveis possa nos ajudar a descobrir talentos e capacidades das quais nem nos imaginamos dotados. Quem sabe... interessar-se por desenho e formas geométricas, podem ajudar com a matemática e chegar até a arquitetura. Estudar as proporções do corpo humano pode nos deixar mais íntimos da ‘assustadora’ biologia. Pintar e experimentar as cores podem resultar na abertura de possibilidades para a psicologia e o design. São tantas possibilidades de conexões que passam batidos por nós todos os anos, durante toda a correria e a perda de um sentido maior na vida.

'Moisés' - Igreja de São Pedro Acorrentado

Façamos então como Michelangelo e deixemos nossa criatividade apagar nossas inúteis linhas do horizonte e esboçar novas possibilidades de presente e futuro e outros modos de vida. A sensação de ‘ano-novo, vida nova’ é real e pode ser duradoura, só depende da sua inspiração e das respostas: quantos ângulos você tem? Você é feito de apenas uma dimensão? Qual(is) é(são) o(S) seu(S) talento(S)?

Michelangelo sabia suas respostas.^^

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Lançamento de 'Doces Sonhos'

Estou super ausente aqui do blog e estou sentindo tanta falta!!!
Em breve espero criar coragem de organizar decentemente a minha vida pra poder voltar a escrever, mas por enquanto venho aqui deixar com vocês uma super novidade!
Meu livro finalmente saiu e já está a venda nas mais diversas livrarias (clique aqui para adicionar no Skoob). No Skoob tem a sinopse oficial e logo, logo vocês poderão acompanhar as resenhas pra saber a opinião do pessoal.
A data do lançamento oficial é dia 18 de novembro, na Saraiva Mega Store do Shopping Center Norte, às 19:00. A presença de todos é muito importante pra mim, portanto, quem puder compareça!


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Quem tem medo dos clássicos?

Pintura em livro - Mike Stilkey


Depois de um período de seca (adaptação da vida acadêmica,rs) estava sentindo muita falta do blog, então decidi me disciplinar pra escrever.

Esse tempo em que fiquei sem postar foi bastante produtivo nas leituras e, pensando no que seria legal pra trazer pra cá, me veio à cabeça (novamente) a questão da leitura dos livros clássicos.

Até mesmo entre os acadêmicos do curso de Letras percebo certo receio em se aventurar pelos livros clássicos, pra não dizer preconceito.

Nessa questão penso que é importante respeitar o gosto e a opinião de cada um, afinal de contas o prazer resultante da leitura é um dos maiores trunfos no incentivo por parte dos amantes dos livros, só que este prazer tem como uma de suas fontes a identificação que o leitor tem com o assunto que está lendo, o gosto que ele tem pelo tipo da leitura. É claro que é muito mais fácil lermos algo com o qual já tenhamos familiaridade ou do qual gostamos, mas ás vezes o esforço numa tentativa fora de nossa zona de conforto pode trazer grandes surpresas. E, por outro lado, tentar tipos diferentes de leitura nos abre as portas para novos conhecimentos e melhor discernimento sobre o que nos vai bem ou não. É totalmente permitido não gostar de um autor que o resto do mundo adorou e consagrou como clássico durante anos. As pessoas são diferentes e tem direito a isso. Mas é claro, para ter essa opinião é preciso conhecer do que se está falando.

Os clássicos são livros que foram odiados e injustiçados ou que fizeram sucesso desde o começo, mas para que isso mudasse ou se mantivesse foi necessário que milhares de leitores ao redor do mundo dessem uma chance para a obra. O livro, clássico ou não, precisa ser desbravado, muitas vezes em alguns casos, para que sua essência mostre o rosto para nós. Uma leitura que a princípio nos parece extremamente difícil pode se desenrolar depois de repetida. Um clássico pode se mostrar de fácil compreensão se passarmos a lê-lo de outra forma, de forma menos receosa e mais receptiva.

Como tudo na vida, os Clássicos só precisam de uma chance e um pouco de coragem!

sábado, 30 de julho de 2011

*Arte* A figura de Davi na arte

Profundamente envolvida com a leitura de ‘O Poder da Arte’, de Simon Schama, estudando a vida e obra de Caravaggio, uma passagem me chamou a atenção.

“Nas obras de outros – principalmente do outro Michelangelo -, Davi personifica a união da virtude divina e força heróica (...). E, como na tradição cristã Davi é o maior ancestral de Cristo, sua figura também está associada ao triunfo do bem sobre o mal, da graça redentora sobre a transgressão satânica.”

O Poder da Arte – Simon Schama (pág. 77)

Uma das coisas que mais me fascina na arte é o simbolismo. Existem milhares de possibilidades de significado para um símbolo na arte e desvendá-los é um dos meus grandes passatempos ao observar a arte. Alguns símbolos são universais, outros são subjetivos. Cada artistas representa um mesmo episódio ou personagem, mas a sua maneira e essas milhares de representações próprias são o que enriquecem a arte. A arte é inesgotável, assim como o que ela representa.

A figura de Davi é cativante não só pela explicação que Schama nos dá em seu maravilhoso livro, mas também porque representa para nós a possibilidade da vitória não importando o tamanho do obstáculo ou de quem o enfrenta. A vitória está ao alcance, só depende da arma ou meio usado para obtê-la. Davi nos mostra que, não importa o tamanho do desafio, e sim o tamanho da sua vontade de transpô-lo.

Para ilustrar esses maravilhosos conceitos e comemorar a diversidade na arte, depois de uma pesquisa árdua, descobri muitos artistas e me maravilhei com suas interpretações deste herói. Embora sejam muitos, não consegui me convencer a deixar algum deles de fora, portanto, os Davis são muitos, têm várias faces, vários humores e, assim, também uma infinidade de significados. Apreciem!^^

Obs.: As obras se encontram em ordem aleatória.

Fontes que me ajudaram a escrever e encontrar as obras e artistas:

Schama, Simon – O Poder da Arte – Companhia das Letras

http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2006/jusp758/pag1011.htm

http://www.wga.hu/index1.html



'Davi' - Gianlorenzo Bernini

'Davi com a cabeça de Golias' - Michelangelo de Caravaggio

'Davi com a cabeça de Golias' - Giuseppe Cesari

'Davi com a cabeça de Golias' - Guido Reni

'Davi com a cabeça de Golias e dois soldados' - Valentín de Boulogne

'Davi' - Donatello

'Davi' - Michelangelo de Caravaggio

'Davi e Golias' - Ticiano Vecellio

'Davi' - Gianlorenzo Bernini

'Davi matando Golias' - em Saint-Gilles-du-Gard

'Davi Vitorioso' - Mestre italiano desconhecido

'Davi vence Golias' - Gustave Doré

'Davi' - Domenico Ghirlandaio

'Davi' - Donatello

'Davi' - Michelangelo

'Davi' - Girolamo Farabosco

'Davi' - Orazio Gentileschi

'Davi e Golias' - Marcantonio Raimondi

'Davi e Golias' - Michelangelo (detalhe da Capela Sistina)

'Davi com a cabeça de Golias' - Domenico Fetti

'Davi da casa Martelli' - Artista romanesco catalão


'O jovem Davi' - Andrea del Verrocchio

'O triunfo de Davi' - Bartolomeo Manfredi

'O triunfo de Davi' - Nicolas Poussin

'Davi matando Golias' - Peter Paul Rubens

'The youthful David' - Andrea del Castagno

quarta-feira, 27 de julho de 2011

*Arte* Michelangelo de Caravaggio

'O Incrédulo São Tomé' - Michelangelo de Caravaggio

Em tempos da morte precoce de uma cantora com tanto talento como Amy Winehouse me vem à cabeça a reflexão da benção e da maldição que são os dons de cada um. A cantora assim como Caravaggio, era possuidora de um talento ímpar, mas, por falta de controle de seus impulsos destrutivos talvez, assim como o pintor, seus dotes não foram o bastante para que ela encontrasse um caminho saudável em tempo.

'Cabeça de Medusa' - Michelangelo de Caravaggio

Caravaggio abriu um novo veio na arte sacra. Utilizando métodos muitas vezes considerados desrespeitosos (como utilizar uma prostituta para modelo da representação de uma santa), o artista revolucionou a arte de forma aparentemente sutil. Seus quadros com ‘abuso’ com chiaroscuro (manuseio de luzes e sombras extremas) e representação da realidade nua e crua, muitas vezes viceral, parecem saltar do quadro rompendo as barreiras normais entre representação e observador.

'Davi com a cabeça de Golias' - Michelangelo de Caravaggio

O pintor seria no mínimo um paradoxo, já que fez tanto pela arte sacra e era possuidor de um gênio violento e indomável. Sua vida foi cheia de altos e baixos, dividida entre a aclamação e a condenação, com muitas chances de arrependimento e retratação, mas que nunca foram aproveitadas por Caravaggio. Suas obras, embora repletas de beleza e sublimidade são talvez as testemunhas oculares de suas personalidade arredia. O sangue jorrando da cabeça de ‘Medusa’ ou da de Golias, o dedo do incrédulo São Tomé mergulhando profunda e despudoradamente na ferida de Jesus Cristo... Todos são provas da genialidade e violência de Caravaggio.

Me pergunto se suas obras seriam a mesmas se ele houvesse calado dentro de si a ferocidade, e o mesmo sobre Amy caso tivesse decidido por uma vida mais longa...


Bibliografia

Schama, Simon – O Poder da Arte – Companhia das Letras

Gerlings, Charlotte – 100 Grandes Artistas - Cedic

terça-feira, 26 de julho de 2011

*Cinema e Arte* O Sorriso de Monalisa


Título original: (Mona Lisa Smile)

Lançamento: 2003 (EUA)

Direção: Mike Newell

Duração: 125 min

Gênero: Drama

Sinopse

Katharine Watson (Julia Roberts) é uma recém-graduada professora que consegue emprego no conceituado colégio Wellesley, para lecionar aulas de História da Arte. Incomodada com o conservadorismo da sociedade e do próprio colégio em que trabalha, Katharine decide lutar contra estas normas e acaba inspirando suas alunas a enfrentarem os desafios da vida.


Para variar um pouco tanto a coluna de Cinema quanto a de Arte, por que não juntar as duas? Como ainda estou pesquisando artistas sobre os quais escrever na coluna e ando super atarefada tive a idéia de falar sobre filmes maravilhosos que já assisti que falam sobre arte e/ou artistas.

Começando com ‘O Sorriso de Mona Lisa’, um filme com um clima leve para falar de coisas importantíssimas. A professora de História da Arte, Katharine Watson, interpretada por Julia Roberts, realiza seu sonho de ir dar aulas no colégio Wellesley, um renomado colégio para moças. Assim que chega, em seu primeiro dia de aulas, é obrigada a reconhecer que sua visão sobre o colégio e suas alunas era extremamente idealizada.

Em plena década de 50 é difícil para uma mulher visionária que não admite se submeter a regras baseadas na inferioridade e submissão do sexo feminino, cair dentro de uma das instituições que ajudam a preservar essa visão. Katharine então decide revolucionar não só o programa de aulas de sua disciplina, como também a visão de mundo das alunas. A professora lhes mostra como é mundo é muito mais do que jantares no horário certo para o marido e cuidar da educação das crianças, as mulheres têm tanta capacidade quanto os homens de criar, trabalhar e estudar.

Além de uma trilha sonora linda, as reflexões sobre arte e o jeito como a arte pode influenciar e modificar as relações humanas. Destaque especial para a cena em que a Srta. Watson leva suas alunas para admirar um quadro original de Pollock, e a repercussão que o trabalho do artista causa nas alunas.

“Vocês não precisam gostar, apenas admirem”

'Greyed Rainbow' - Jackson Pollock
Pintura que Katharine e suas alunas observam no filme.

A frase é tão simples, mas tão cheia de importante significado! A arte existe para ser adorada ou odiada, mas o essencial é que seja admirada. Cada artista merece ser admirado, observado e precisam de ao menos um minuto de reflexão sobre sua arte, não pelo status de ser um ‘conhecedor de arte’, mas pelo prazer de admirar a beleza que o ser humano é capaz de produzir e compartilhar, mesmo quando essa beleza não salte aos olhos.

Tomemos o exemplo da ‘Mona Lisa’ de Leonardo da Vinci, a despeito de todas as teorias em torno do significado do quadro e do enigma que representa o sorriso da moça retratada... A você, o que diz o sorriso de Mona Lisa?

*Cinema* Meia noite em Paris

Sinopse

Gil (Owen Wilson) sempre idolatrou os grandes escritores americanos e quis ser como eles. A vida lhe levou a trabalhar como roteirista em Hollywood, o que se por um lado fez com que fosse muito bem remunerado, por outro lhe rendeu uma boa dose de frustração. Agora ele está prestes a ir a Paris ao lado de sua noiva, Inez (Rachel McAdams), e dos pais dela, John (Kurt Fuller) e Helen (Mimi Kennedy). John irá à cidade para fechar um grande negócio e não se preocupa nem um pouco em esconder sua desaprovação pelo futuro genro. Estar em Paris faz com que Gil volte a se questionar sobre os rumos de sua vida, desencadeando o velho sonho de se tornar um escritor reconhecido.



“When the little bluebird
Who has never said a word
Starts to sing Spring
When the little bluebell
At the bottom of the dell
Starts to ring Ding dong Ding dong
When the little blue clerk
In the middle of his work
Starts a tune to the moon up above
It is nature that is all
Simply telling us to fall in love

Let’s do it – Cole Porter

Tive o imenso prazer de ir ao cinema e conferir o tão falado novo filme de Woody Allen, ‘Meia-noite em Paris’ e tenho que comentar: Filmes cult então em alta, não é? Mas me pergunto se as pessoas estão valorizando tais filmes por serem bons de verdade ou simplesmente por receberem a tag ‘cult’.

Eu quis assistir porque sou apaixonada por Paris e a França e morro de vontade de conhecer, e também pelos maravilhosos artistas e escritores que são retratados na película. Não posso dizer que sou grande conhecedora dos filmes de Woody Allen, mas saber que o filme foi feito por ele pesou na minha decisão. Não me arrependi de forma alguma e me apaixonei pelo filme!

O personagem principal é um homem comum, escritor de roteiros que escreveu seu primeiro romance e está prestes a se casar. Apaixonado pela década de 20, numa viagem que faz com sua noiva a Paris ele acaba experimentando toda a beleza da época, na pele. Ele de fato faz uma estranha viagem no tempo e vai parar na década de 20 em Paris. Encontra escritores e artistas importantíssimos como Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Picasso e Dali. Mesmo sabendo da loucura e impossibilidade de tudo aquilo, o protagonista entra de cabeça nesse mundo com o qual apenas sonhara e se sente em casa.

Em alguns momentos é preciso conhecer um pouco sobre arte e literatura para entender a sutileza das situações em que ele encontra grandes personalidade dessas áreas, mas acredito que o que há de melhor no filme é a capacidade de entretenimento de qualidade aliado as lições que podemos transportar para a vida real. Em certo momento, apesar de adorar conhecer seus ídolos, o personagem começa a se questionar sobre o saudosismo ilimitado e aonde isso o pode levar.

Filme válido para questionar analisar e se dar bem com o passado, o presente e o futuro!